quarta-feira, 31 de outubro de 2012



Que venha só a Gabriela.


Lembro-me de discussões políticas onde as argumentações tinham lado. Direta ou esquerda. As coisas corriam de uma maneira, digamos mais ordenada. Quase previsível. Pessoas com mais idade eram de direita. Pessoas mais novas eram de esquerda. Uma cisão clara entre o conservadorismo e o novo.
O esforço da direita, para manter as coisas como estão, era diretamente proporcional ao empenho da esquerda pelas mudanças.  A direita era pela manutenção da ordem. A esquerda anárquica. A direita era militar. A esquerda subversiva.
Reconheço que a tranquilidade e conforto gerados pelo pensamento conservador são atraentes, afinal, em time que está ganhando não se mexe. Porém, no Brasil, a corrente conservadorista ficou atrelada a não evolução. Engessamento do estado. Criou-se uma visão coronelista de se governar, onde senhores de engenho exerciam poder sobre tudo e todos. A TV nos mostrou claramente isso na série global Gabriela – adaptação do romance Gabriela, cravo e canela de Jorge Amado. Vimos coronéis, de dedo em riste, afrontando juízes e delegados de polícia. Tudo é valido para a manutenção do poder.
A esquerda vinha com um discurso novo. Mexendo com as bases da sociedade. Vertendo para baixo as antigas estruturas de poder. Um pensamento igualitário onde todos poderiam ascender socialmente. Uma tentação para a mocidade que adentrava ao mercado de trabalho com sede de crescer e realizar seus sonhos. Assim tivemos um grande engajamento.
Mas o tempo passou, as ideias mudaram, os jovens esquerdistas passaram para o centro e a direita praticamente desapareceu. Não vejo um partido que possa ser apontado com genuinamente de direta. A antiga ARENA – Aliança Renovadora Nacional – maior representante da direita gerou o PDS depois o PFL que virou DEMOCRATAS, que alimentou a criação do PSD que sustenta uma ideologia de centro/direita. O antigo MDB – Movimento Democrático Brasileiro – fundado por opositores a ARENA, ou seja, de esquerda, gerou o PMDB que alimentou o PSDB que sustenta uma ideologia de centro/esquerda. O PT – Partido dos Trabalhadores – um dos maiores movimentos de esquerda da America do Sul, com uma ideologia social democrata, ligado a dirigentes sindicais a católicos da Teologia da Libertação, rompe antigas disputas e posiciona-se como principal legenda de esquerda. Mas como disse acima, o tempo passou as ideias mudaram e o PT passou para centro/esquerda.
Enfim, todas as legendas têm em suas bases preceitos centristas. Nada de radicalismos, exceção ao PSTU e Psol – este, aliais conseguiu eleger dois prefeitos Itaocara (RJ) e Macapá (AP). Antigos discursos ideológicos foram “deixados” de lado em função dos resultados a serem alcançados. Vivemos, então, uma crise ideológica pela falta de sua definição.
As legendas evoluíram já as práticas nem tanto. Ministros do Supremo Tribunal Federal tem sido assediados nos moldes do romance do mestre Jorge Amado, por novos coronéis hoje no banco dos réus.
 Bem, se trouxerem de volta hábitos e personagens da trama global, melhor que venha só a Gabriela.

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