Que venha só a Gabriela.
Lembro-me de discussões políticas
onde as argumentações tinham lado. Direta ou esquerda. As coisas corriam de uma
maneira, digamos mais ordenada. Quase previsível. Pessoas com mais idade eram
de direita. Pessoas mais novas eram de esquerda. Uma cisão clara entre o
conservadorismo e o novo.
O esforço da
direita, para manter as coisas como estão, era diretamente proporcional ao
empenho da esquerda pelas mudanças. A
direita era pela manutenção da ordem. A esquerda anárquica. A direita era
militar. A esquerda subversiva.
Reconheço
que a tranquilidade e conforto gerados pelo pensamento conservador são
atraentes, afinal, em time que está ganhando não se mexe. Porém, no Brasil, a
corrente conservadorista ficou atrelada a não evolução. Engessamento do estado.
Criou-se uma visão coronelista de se governar, onde senhores de engenho
exerciam poder sobre tudo e todos. A TV nos mostrou claramente isso na série global
Gabriela – adaptação do romance Gabriela, cravo e canela de Jorge Amado. Vimos
coronéis, de dedo em riste, afrontando juízes e delegados de polícia. Tudo é
valido para a manutenção do poder.
A esquerda
vinha com um discurso novo. Mexendo com as bases da sociedade. Vertendo para
baixo as antigas estruturas de poder. Um pensamento igualitário onde todos
poderiam ascender socialmente. Uma tentação para a mocidade que adentrava ao
mercado de trabalho com sede de crescer e realizar seus sonhos. Assim tivemos
um grande engajamento.
Mas o tempo
passou, as ideias mudaram, os jovens esquerdistas passaram para o centro e a
direita praticamente desapareceu. Não vejo um partido que possa ser apontado
com genuinamente de direta. A antiga ARENA – Aliança Renovadora Nacional –
maior representante da direita gerou o PDS depois o PFL que virou DEMOCRATAS,
que alimentou a criação do PSD que sustenta uma ideologia de centro/direita. O
antigo MDB – Movimento Democrático Brasileiro – fundado por opositores a ARENA,
ou seja, de esquerda, gerou o PMDB que alimentou o PSDB que sustenta uma
ideologia de centro/esquerda. O PT – Partido dos Trabalhadores – um dos maiores
movimentos de esquerda da America do Sul, com uma ideologia social democrata,
ligado a dirigentes sindicais a católicos da Teologia da Libertação, rompe
antigas disputas e posiciona-se como principal legenda de esquerda. Mas como
disse acima, o tempo passou as ideias mudaram e o PT passou para
centro/esquerda.
Enfim,
todas as legendas têm em suas bases preceitos centristas. Nada de radicalismos,
exceção ao PSTU e Psol – este, aliais conseguiu eleger dois prefeitos Itaocara
(RJ) e Macapá (AP). Antigos discursos ideológicos foram “deixados” de lado em
função dos resultados a serem alcançados. Vivemos, então, uma crise ideológica
pela falta de sua definição.
As legendas
evoluíram já as práticas nem tanto. Ministros do Supremo Tribunal Federal tem
sido assediados nos moldes do romance do mestre Jorge Amado, por novos coronéis
hoje no banco dos réus.
Bem, se trouxerem de volta hábitos e personagens
da trama global, melhor que venha só a Gabriela.
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