O Rei está nu!
A fábula
infantil As Vestes do Rei, do holandês Hans Christian
Andersen de 1837,
narra a chegada de um bandido que se passa por um alfaiate de altíssima
qualidade, sem similar no reino. Porém só os mais inteligentes teriam a
capacidade de ver as confecções criadas com fios especiais, revolucionários.
Imediatamente o farsante conseguiu vários admiradores que, diante da
“magnificência” das criações, tratavam seu trabalho como divino. Após muito
tempo e com os bolsos cheios de riquezas, fingindo tear fios mágicos, o
alfaiate apresentou as vestes reais que encantou a todos que não queriam passar
por estúpidos. Rapidamente foi organizado um desfile onde o Rei usaria os
trajes especiais, invisíveis aos mais discretos intelectualmente. Palácio repleto
com os mais nobres súditos inicia-se o desfile real. Adentra ao salão sua
majestade, ostentado suas novas e invisíveis roupas, quando a cruel franqueza
infantil desmascarou o embuste. Uma criança observou o óbvio, e exclamou: O Rei
está nu!
A analogia
se relaciona às revelações apresentadas no julgamento do mensalão. O eminente ministro
do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa relator do processo sobre o
Mensalão, escancara as entranhas do governo, principal beneficiado pelo esquema,
com minúcias impróprias para menores de 16 anos. O que se pretendia, além da
perpetuação do poder, era a transformação de parlamentares em meros
subservientes de um complexo esquema de corrupção que atentava contra a democracia.
A arrogância do pensamento supremo de que apenas uma diretriz política seria
capaz elevar o país ao nível de nação desenvolvida foi o combustível para se
arquitetar tal plano.
O decano
ministro do STF Celso de Mello, externou sua perplexidade na declaração "Nunca vi tão nitidamente caracterizado
o crime de formação de quadrilha.", acompanhado pelo ministro Marco
Aurélio Mello que assinalou em seu voto condenatório, "No caso, houve a formação de uma quadrilha das mais complexas,
envolvendo na situação concreta o núcleo dito político, o núcleo financeiro e o
núcleo operacional. Mostram-se os integrantes em número de 13. É sintomático o
número. Mostraram-se os integrantes afinados."
Vísceras
expostas não restam dúvidas sobre origem, finalidade e beneficiados com o
mirabolante plano. Os ministros do STF demonstram que temos maturidade jurídica
necessária para não ceder às pressões, que não são poucas, que recaem sobre
suas togas e afirmam em alto em bom tom: O REI ESTÁ NU!
Não podemos
imaginar que tamanha afronta ocorria sem a anuência total da estrela mais
reluzente do poder executivo. Não podemos imaginar que houvesse outro propósito
sequer que não seja de golpe contra o sistema democrático. Na afirmação do
ministro Gilmar Mendes "Motivação
política não exclui o crime de quadrilha", está a essência da ação.
Contrário à
fábula de Andersen, onde a obviedade é engolida pela vontade de poder de
alguns, sou pela reprimenda do ministro Marco Aurélio Mello: "A República não suporta mais tanto
desvio de conduta.”
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